Entrincheirados com botijão de gás, palestinos disseram a polícia israelense que se matariam para não cumprir uma ordem judicial
Por Pessach Benson, Unidos com Israel
Jerusalém, 17/01/2022
Uma família palestina que ocupa uma casa no bairro de Shimon Hatzadik, Sheikh Jarrah em árabe, em Jerusalém, entrou em confrontou com a polícia que tentava cumprir uma ordem judicial de despejo manhã desta segunda-feira (17). Entrincheirados no telhado da propriedade em disputa, os palestinos ameaçavam detonar um botijão de gás se a polícia israelense desse prosseguimento a ação de despejo.
A prefeitura de Jerusalém e as forças de segurança israelenses tentam cumprir uma ordem de despejo emitida ainda em 2017. À época, ao fim de uma longa batalha judicial, a Corte Distrital de Jerusalém julgou que Mahmoud Salhia não tem direito legal sobre o imóvel, invadido por sua família nos anos 50, quando Jerusalém Oriental era controlada pela Jordânia.
No terreno em disputa há duas casas, uma ocupada por Mahmoud Salhia e outra por sua irmã. Seguindo a ordem judicial a Prefeitura de Jerusalém expropriou o terreno e nele planeja construir uma escola para crianças árabes com necessidades especiais que moram na região. O projeto prevê a construção de um prédio com 18 salas de aula, além de um jardim de infância.
Autoridades jerusalemitas disseram que desde a expedição da ordem judicial a família de Mahmoud Salhia teve “inúmeras oportunidades” de deixar a propriedade pacificamente. Isto, mesmo após incontáveis audiências, reuniões e tentativas de se chegar a um acordo através do diálogo.
O Ministro da Segurança Pública de Israel, Omer Bar Lev, disse que estava acompanhando de perto os desdobramentos no bairro de Sheikh Jarrah. Segundo ele, “é impossível ‘segurar o bastão nas duas pontas’ – por um lado exigir que o município de Jerusalém atue em prol do bem-estar de sua população árabe e por outro lado se opor a construção de escolas e instituições destinadas a esse fim”.
O bairro de Sheikh Jarrah também é conhecido com Shimon Hatzadik, em hebraico. Isto, em homenagem a um dos Sumo Sacerdotes do Segundo Templo Sagrado de Jerusalém que está enterrado ali. A região de Shimon Hatzadik é habitada por judeus desde o século XVIII e a comunidade judaica que ali vivia foi expulsa pelos jordanianos em 1948, quando o reino hachemita conquistou Jerusalém Oriental.
O terreno ocupado pela família Salhia fica próximo de outros terrenos e casas que são objetos de outras disputas legais. A mais famosa delas referente a uma região comprada em 1930 pela organização Nahalat Shimon, uma associação de judeus iemenitas e sefaraditas.
Durante a Guerra da Independência de Israel a Jordânia conquistou diversos bairros de Jerusalém e transferiu para a região famílias árabes e jordanianas. À época, a Ministério da Habitação do Reino da Jordânia também se apropriou de terrenos que antes pertenciam a judeus expulsos de Jerusalém Oriental e neles construiu casas destinadas a famílias muçulmanas.
A batalha judicial por algumas propriedades no bairro de Sheikh Jarrah começou depois 1967, com a reunificação da cidade de Jerusalém após sua conquista por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Em 1982, o Tribunal Superior de Israel julgou procedente a alegação de propriedade contestada pelo Comitê da Comunidade Sefaradita. Isto, em conformidade com uma lei de 1970 que permitia a reivindicação de propriedades compradas por judeus antes de 1948 e expropriadas pela Jordânia.
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